Entidades apresentam no FSM propostas para democratizar a comunicação

Fortalecer a rede de comunicação pública e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ampliar o fomento da comunicação regional e popular e reformar o decreto 2.615 de 1998, que regulamenta o Serviço de Radiodifusão Comunitária no país, instituído pela Lei  9.612 de 1998.

Estas foram algumas das reivindicações apresentadas por entidades ligadas à democratização das comunicações, que participaram na tarde desta terça-feira (24), no auditório do SindBancários, de uma roda de diálogo sobre o tema no Fórum Social Mundial (FSM), que começou na segunda-feira (23) em Porto Alegre.

A mesa de debates “Sem comunicação democrática não existe democracia de verdade” foi organizada pelo Fórum Nacional pela Comunicação da Comunicação (FNDC) com dezenas de parcerias, dentre entidades sindicais, associações e movimentos sociais.

Liberdade para as rádios comunitárias

O presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), Geremias dos Santos, destacou que a lei das rádios comunitárias representou um avanço para o setor, porém o decreto colocou amarras que não estavam na legislação aprovada, como a restrição da potência para o alcance de um quilômetro e a proibição de publicidade, mesmo que de pequenos comércios da comunidade.

“Nós queremos ter acesso a verba pública e privada de mídia. Nós vivemos num país capitalista, estamos presentes em mais de 3,5 mil municípios. É um absurdo nós sermos proibidos de acessar essa verba. Não só a pública, como o mercado do seu João que não pode anunciar, isso é um verdadeiro absurdo. O decreto criou uma área de abrangência de um quilômetro, isso não tinha na lei. O decreto é pior do que a lei e precisa ser feita a revisão dessa herança maldita”.

A Abraço também reivindica a manutenção da frequência AM para uso dos movimentos sociais, já que, segundo Geremias, ainda há muitos ouvintes das ondas médias no país.

“Nós queremos que a rádio AM vá para o movimento social. As rádios comerciais pediram a migração para a FM, mas ainda tem muita gente que só ouve AM. Para vários setores a faixa ainda é importante”, destacou ele.

Outra sugestão do movimento é transformar as rádios comunitárias em Pontos de Comunicação, utilizando o modelo dos Pontos de Cultura, criado em 2004 pelo Ministério da Cultura, e que fomentava grupos e centros culturais por todo o Brasil. Segundo Geremias, o país tem hoje mais de 8 mil rádios comunitárias, em mais de 3 mil municípios.

Foto: Tânia Rego / Agência Brasil

Mídia alternativa e comunicação pública

A coordenadora do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, Larissa Gould, destacou a importância de fortalecer a mídia alternativa e regional, além da pública e da comunitária.

“O Brasil tem muitos municípios que são desertos de notícia [não possuem nenhum veículo de comunicação], então a valorização de pequenos jornais pode gerar emprego e informação nos locais onde os grandes meios não atuam. É preciso definir uma política democrática e transparente para a distribuição da publicidade oficial e institucional, com alocação de recursos que considere critérios de diversidade e inclusão”, disse.

Entre as reivindicações apresentadas pelas entidades também estão o retorno do Conselho Curador da EBC, que foi extinto por medida provisória após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e a inclusão de conteúdos de educação midiática nas escolas, como forma de combater a desinformação.

Também foram citados pelos participantes do fórum o fortalecimento da EBC e da rede nacional de comunicação pública, o acesso universal à internet de banda larga, com a possibilidade de criação de redes locais, e a proteção dos dados sensíveis dos governos e das pessoas, bem como a regulamentação dos meios para evitar, por exemplo, a concentração de veículos nas mãos de poucos donos e a propriedade cruzada num mesmo território. Além da fiscalização das outorgas para combater discursos de ódio e desinformação e garantir o respeita aos direitos humanos nas programações.

A ex-presidenta do Conselho Curador da EBC, Rita Freire, que integra o grupo de transição na empresa, afirmou que a presença dela no grupo é a garantia de que a sociedade civil será ouvida nas demandas reprimidas nesses seis anos, período em que foi organizada uma resistência para manter viva a ideia de comunicação pública no Brasil.

Greg e a jornalista Katia Marko, editora do Brasil de Fato. Foto: Ademir Wiederkehr


Secom

Após ouvir as demandas, a diretora de Promoção da Liberdade de Expressão, da Secretaria de Políticas Digitais, Samara Castro, representando a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), garantiu que os temas serão levados ao ministro Paulo Pimenta e discutidos no governo, de forma a garantir direitos e avançar nas conquistas para o setor de radiodifusão comunitária e pública.

“É muito importante ter esse espaço de escuta, já estou com o caderninho cheio de anotações. Vamos ter que correr atrás para alcançar essas novas conquistas, mas sem perder direitos e também garantir novos direitos”, destacou.

“Foram quatro anos de escassez de debate, de escuta e de realização, então existe essa ansiedade para realizações imediatas. Eu não tenho as respostas agora, mas vamos estar atentos a essas questões importantes para a construção da democracia”, enfatizou Samara.

Todas as sugestões apresentadas na atividade serão encaminhadas na forma de um caderno de propostas para a Secom.

Foto: Ademir Wiederkehr

Democratização da Comunicação

O secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil e integrante da Executiva do FNDC, Admirson Ferro, o Greg, frisou que os temas discutidos serão também abordados na Plenária Nacional do FNDC, a ser realizada nos dias 3, 4 e 5 de março, em São Paulo. Até lá plenárias regionais serão realizadas na primeira quinzena de fevereiro para debater as teses e eleger os delegados.

O Fórum vai até sábado (28) e está prevista a participação de diversos movimentos sociais, como lideranças indígenas, do movimento negro, LGBTQIA+, estudantil e sindical, além das ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Saúde, Nísia Trindade.

Fonte: CUT RS

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