Nesta terça (10), clínicas da família, ambulatórios e centros de atenção psicossocial vão paralisar todas as atividades
Médicos e técnicos da área de saúde do Rio de Janeiro organizam diversos atos na cidade nesta semana para protestar contra os atrasos salariais e por melhora no atendimento à população em hospitais administrados pela Prefeitura. A partir desta terça-feira (10), 100% das clínicas da família, ambulatórios e centros de atenção psicossocial farão paralisação. Os técnicos de enfermagem permanecem em serviço.
Já nos próximos dias, 50% dos técnicos de enfermagem, 30% de enfermeiros e demais categorias, além de 30% dos médicos vão aderir à paralisação. Na quarta-feira (11), os profissionais realizarão atos em diversos pontos da cidade, incluindo a região no entorno do Hospital Miguel Couto, no Leblon, e o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, que nos últimos dias chegaram a fechar por conta de falta de materiais.
O médico de família Claudio Vasconcelos, do coletivo “Nenhum serviço de saúde a menos”, explicou que a decisão pela greve foi tomada nesta segunda-feira (9), diante do impasse dos últimos dias. Segundo ele, a Prefeitura não apresentou mais soluções aos atrasos salariais depois de ter sido impedida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) de usar recursos federais destinados a outras áreas.
“Há dois meses e meio, a maior parte dos trabalhadores da atenção primária e de diversos hospitais – são 22 mil trabalhadores de saúde – estão sem salários, sem vale alimentação e sem vale transporte. Isso ocorre porque a Prefeitura contingenciou o orçamento e não se organizou para no fim do ano ter recursos e honrar os salários das pessoas”, explicou o profissional.
O fechamento do hospital municipal Albert Schweitzer, em Realengo, zona oeste do Rio, deu mais um sinal da política de desmonte da saúde pública que afeta a população e os profissionais da área. Do lado de fora do hospital, nesta segunda (9) pessoas manifestaram que o lema “cuidar das pessoas”, que elegeu no final de 2016 o prefeito Marcelo Crivella (PRB), não foi colocado em prática.
A Prefeitura do Rio negou que tenha havido paralisação de atividades do Albert Schweitzer, mas há meses pacientes se queixam da falta de médicos, técnicos e materiais hospitalares em diversos pontos de atendimento da cidade. Alguns funcionários sequer têm dinheiro para chegar ao trabalho.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Paulo Garrido, na ponta do processo de desmonte do serviço público está o sofrimento da população. “É um total descaso com a saúde. As condições precárias de trabalho para os profissionais de área e a falta de medicamentos e insumos acaba repercutindo no atendimento à população. Há um projeto de desmonte em curso e o serviço público sofre muito com isso”.
Cenário nacional
Em conjunto com as ações de Crivella, uma proposta do Ministério da Saúde que altera as formas de repasse dos recursos federais destinados à atenção primária em saúde, principalmente nos municípios, é outra preocupação de entidades que defendem o direito à saúde pública. O representante do sindicato da Fiocruz comenta:
“A Asfoc junto com outras entidades e movimentos sociais da saúde enviou uma carta aos parlamentares, prefeitos e secretários municipais de Saúde, demonstrando uma grande preocupação com as políticas neoliberais e de austeridade do governo em relação à Saúde. Essa proposta pode ampliar a desigualdade no acesso para toda a população”, afirmou Paulo Garrido.
Membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e Diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Alisson Sampaio disse ao Brasil de Fato que há um cenário nacional de precarização da saúde pública. Segundo ele, a criação pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de uma agência privada para a atenção primária à saúde vai transformar o Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de exportação para o mundo, em uma grande Organização Social(OS) com interesses particulares.
Alisson Sampaio também vê com preocupação as movimentações de Bolsonaro para mudar o regime de trabalho de profissionais do Mais Médicos. “O vínculo não será mais a bolsa, o programa propõe vínculo com CLT, mas o pano de fundo de tudo isso é a reforma trabalhista e a ‘carteira de trabalho verde e amarela’ em que você escolhe se quer trabalho ou direitos. É o trabalho precarizado com vínculo flexibilizado”, aponta o médico.
Fonte: Eduardo Miranda – Brasil de Fato