Caravana por 186 escolas encontrou graves problemas como risco de desabamento, falta de energia elétrica e infiltrações
A situação em diversas escolas da rede pública estadual do Rio Grande do Sul é caótica. Verificam-se graves problemas estruturais que colocam em perigo alunos e trabalhadores ou impedem um aprendizado adequado. É o que denuncia um dossiê do Centro dos Professores do Estado do RS (CPERS Sindicato). Divulgado em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (2), o documento apresenta o resultado da caravana realizada pelo sindicato. Entre os dias 11 e 26 de novembro foram visitadas 186 escolas em 60 municípios, a fim de apurar as condições materiais e humanas das escolas estaduais.
Das 186 escolas estaduais visitadas por dirigentes do sindicato, 58 possuem graves problemas em suas estruturas físicas ou de recursos humanos: em 21 faltam educadores, em 12 existem problemas de infiltração, em 13 verificam-se problemas na rede elétrica, cinco estão sem luz e uma sem água. Além disso, oito escolas têm prédios ou pavilhões interditados, sete estão com muro desmoronando ou já desabado, seis têm telhado quebrado com ameaça de desabamento e oito possuem salas de aula interditadas.
A presidenta do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, classificou a situação encontrada pelo sindicato como “um caos”, enquanto comentava os casos mais graves verificados. “A estrutura das escolas está extremamente defasada. A gente se questiona, como educadores, qual é o espírito das crianças e dos jovens ao entrarem num estabelecimento para fazer a sua formação e encontrá-los dessa forma deplorável como estão? Isso afeta a aprendizagem e a vontade de ir para a escola”, disse.
Escolas nunca foram tão abandonadas
Na avaliação da dirigente, em seus 36 anos em salas de aula, as escolas nunca foram tão abandonadas como ultimamente, no governo de Eduardo Leite (PSDB). Ela citou obras iniciadas no governo anterior e ainda não concluídas, exemplificando com a situação do Instituto de Educação, em Porto Alegre. “Infelizmente, a notícia é que o governo quer tomar parte do IE, que já tem um projeto de restauração construído com a comunidade, para colocar um museu, sem ouvir ninguém da comunidade”, criticou.
Segundo ela, o dossiê será entregue à secretária de Educação (Seduc) em reunião marcada para a próxima terça-feira (7). Além disso, o material será enviado para cada um dos 55 deputados estaduais. “Eles devem pressionar o governo do estado para fazer as reformas necessárias e dar condições de podermos trabalhar dentro das escolas com segurança”, pontuou.
Helenir destacou que o sindicato vai manter uma cobrança constante sobre o governo para que medidas sejam tomadas, e convidou a comunidade escolar para se somar na luta conjunta. “Queremos inclusive que os pais se somem a nós. É muito importante a comunidade se apropriar da escola, espaço de aprendizagem de seus filhos, não somente na valorização de educação, mas em todos os seus aspectos, inclusive na valorização dos trabalhadores, porque os pais têm sido muito parceiros nossos”, afirmou.
Cobrar o governo por recursos
A presidenta do CPERS disse que a caravana visitou os 42 núcleos do sindicato no estado para ouvir a categoria, que encontra-se desanimada frente a sete anos sem reajuste salarial, e fazer um “contraponto às escolas maravilhosas que o governo vendia”. Referindo-se ao projeto Avançar na Educação, em que o governo Leite pretende investir R$ 1,2 bilhão e criar 56 “escolas padrão”, usou o termo “eleitoreiro”.
“Se o governo tinha vontade de avançar na educação, porque em um ano e oito meses que escolas ficaram fechadas nada foi feito para recuperar o mínimo? Agora querem 56 escolas de excelência, dá pra acreditar nessa proposta enquanto tem escola que não nada, não tem luz?”, questionou Helenir. Para ela, se esses recursos existem, também devem ser usados para dar as mínimas condições de funcionamento às escolas que existem atualmente.
Referindo-se ao ano eleitoral, disse que o sindicato vai lembrar a categoria sobre a situação da educação no estado e os recentes ataques aos direitos dos trabalhadores. “A gente vai informar a categoria e a categoria soberanamente como sempre fez decidirá”, afirmou. Citou a aprovação do teto de gastos estadual para ressaltar que a crítica não é apenas ao governador, mas aos “partidos que votam nessas políticas que atacam o serviço público e com certeza tem acordo com esse projeto”.