Eduardo Leite e o perigo do conflito: carta de um eleitor gaúcho ao Governador

Senhor Governador,

Permita-me apresentar. Sou jornalista, escrevo para veículos como Luiz Muller Blog, RED, e já fui correspondente internacional pelo Sul21, onde também publiquei artigos, inclusive durante meu período na Espanha. Tive um blog chamado Alex Cruz, onde entrevistava personalidades políticas, tanto da Península Ibérica quanto do Brasil. Atualmente, estou no Brasil há algum tempo.

Votei no senhor diante do candidato da extrema direita, Onyx Lorenzoni. Não me arrependo. Se Onyx tivesse sido eleito governador, estaria liderando o evento golpista de 8 de janeiro de 2023, promovendo uma marcha contra a democracia. Esse não foi o caso da Vossa Excelência, pois, embora não esteja plenamente maduro em algumas ações, demonstra qualidades democráticas.

Não estou fazendo trocadilhos com Maduro, apesar de notar sua preocupação com o resultado eleitoral da Venezuela. Entretanto, observo com apreensão quando o senhor exclui, em seus conselhos, movimentos que não estão alinhados com sua visão. Esse viés autoritário me preocupa e deveria ser alvo de uma autocrítica antes de lançar críticas a um país onde a autodeterminação dos povos e a soberania são cruciais para a comunidade internacional.

É especialmente preocupante quando tais atitudes vêm de alguém que possivelmente almeja uma candidatura à presidência da República. A liderança de um país requer maturidade política, capacidade de diálogo e, acima de tudo, respeito pelas diversas vozes e correntes de pensamento que compõem uma nação. A exclusão de movimentos que não estão alinhados com sua visão pode ser interpretada como um indício de intolerância com a pluralidade democrática, o que seria extremamente prejudicial em um cenário nacional, onde o governante precisa ser um mediador e não um autoritário que impõe sua vontade. Para quem postula o cargo mais alto da nação, é fundamental demonstrar capacidade de ouvir, dialogar e integrar diferentes perspectivas, ao invés de promover um ambiente de exclusão e polarização. A responsabilidade de quem almeja liderar o Brasil é imensa, e o país não pode se dar ao luxo de ter um presidente que não esteja pronto para exercer um papel de unificação e respeito pelas instituições democráticas.

Tenho informações de que o senhor é educado e respeitoso, inclusive com sua equipe de assessoria. Sigo-o no Instagram e reconheço que sabe manejar bem sua imagem e carisma. Contudo, me preocupam os últimos discursos que tem feito. Eu gostava muito de assistir aos Jogos de Tronos. Não sei qual série Vossa Excelência aprecia, mas, pelo seu discurso recente, parece estar perdido em um episódio de Lost (ou seria Perdidos?), sem GPS e sem um mapa para guiá-lo. Governador, seu guia de direção pifou? E a assessoria, está aí só para figurar? Que discurso é esse, cheio de bravata, dizendo que ‘as medidas do governo federal é pouco’? Será que o espírito do General Bento Gonçalves baixou por aí? Ou o senhor está se preparando para um spin-off de O Senhor dos Anéis em que precisa defender o anel a qualquer custo? Quem sabe seria mais prudente ajustar o tom e evitar a retórica do conflito, que mais parece querer nos levar de volta aos tempos sombrios de guerras e rivalidades

Sei que Vossa Excelência parece ter uma boa formação cultural, caso contrário, não teria escolhido nomes de qualidade para a área cultural. Pelo menos, essas são as informações que recebi, embora o senhor ainda não tenha atendido às reivindicações do setor cultural, que são justas, viu? Olha, meu povo negro está fora quem aspira ser Bento Gonçalves. Esse biopoder brutal, cruel, extremo, que decide quem vai viver e quem vai morrer, não terá lugar. Há tempos, Governador, os grilhões não estão mais atados, e temos a liberdade de escolher se vamos para a guerra ou não. Embora o senhor não nos escute, fica mais à vontade diante do tal tratoraço, mas até agora, nunca o vi em outros movimentos sociais. Achei até engraçado quando o senhor disse que esse movimento do tratoraço não é político. Mas o senhor não pertence a um partido político? Estava lá como governador, filiado ao PSDB e diante de uma coalizão que Vossa Excelência construiu. Não é político e partidário? Sua presença nesse tratoraço como governador não foi um fato político? Todo movimento é político, e até negar a política, como o senhor fez naquele dia, é um ato político, meu caro jovem governador.

Realizar futurologia é demagogia; não cabe aos filósofos e jornalistas, categoria à qual pertenço, prever o futuro. Não tenho ofício de profeta. Não temos afinidade com a profecia, diria Hegel. Ou como afirmou Max Weber, a cátedra não existe nem para demagogos, nem para profetas. No entanto, Vossa Excelência, posso projetar e prever até onde o senhor irá até o dia 20 de setembro, dia da Revolução Farroupilha. Já visualizo o senhor pilchado junto com sua família política do agronegócio, elevando a temperatura com discursos sobre como o governo federal não nos prejudicará, e tal. Não faço nenhuma aposta. A história é imprevisível, mas como um jornalista político que se atém aos fatos, sem permitir voos altos, vejo que o senhor está trilhando um caminho perigoso, de nós contra eles, no qual presumo que seus amigos Tarcísio Freitas e Romeu Zema não compactuam com essa rebelião quase separatista, ou melhor, esse estímulo perigoso de um Estado historicamente marcado por uma guerra contra o governo federal. E nosso estado vizinho, Santa Catarina, também não veria isso com bons olhos. Até o momento, há um silêncio diante desse seu discurso. Nenhum velho tapinha nas costas ou uma ligação, que o senhor tanto gosta de publicar nas redes sociais, do Freitas ou do Zema, elogiando-o. Estranho, não?

Falta mais de um mês para o dia 20 de setembro. Quiçá, até lá, o senhor faça um discurso pacificador. Seja a solução dos problemas, Eduardo, e não o problema dos problemas para o nosso Estado. Sugiro que convide o Ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, para um debate perante um pool da mídia tradicional e alternativa. Não falo por ninguém, mas tome essa iniciativa de realizar um debate. Ou o senhor negaria através do debate informações que o povo tem direito? Um povo informado é um povo consciente, capaz de realizar suas escolhas com racionalidade. Assim como o senhor governa, com uma assessoria que o mantém informado, permitindo-lhe tomar as melhores decisões. Acabou a era dos tempos dos reis e sacerdotes que detinham informações para controlar o povo e o poder. Mergulhe na nova era da transparência, da democracia, onde a sociedade compreenda o que está acontecendo com nosso Estado.

Promova esse debate. Seria uma grande prestação de serviço de sua parte, e tenho certeza de que Pimenta aceitaria esse debate. Com isso, quem ganharia seria a democracia e o nosso povo.

Alexandre Cruz – Jornalista Político

Fonte: Luíz Müller Blog

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