Em assembleia unificada, servidores decidem manter greve; acuado, governador decide retirar regime de urgência do pacote
Os servidores públicos do Rio Grande do Sul, em greve desde 26 de novembro, decidiram, na manhã desta terça-feira (17), em assembleia unificada na Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre, manter o movimento por tempo indeterminado até que o pacote da reforma administrativa do governador Eduardo Leite (PSDB) seja derrotado na Assembleia Legislativa. Mais de mil pessoas, vindas de várias regiões do estado, participaram da assembleia, que deliberou pelo seu caráter permanente e aberto até uma nova convocação pelo comando de greve.
Pela quarta semana seguida, uma multidão ocupou a praça para protestar contra as medidas apresentadas pelo governador Eduardo Leite. Além dos servidores vinculados ao Sintergs, Sindsepe e Sindicaixa, policiais civis em greve desde a segunda-feira (16) e representantes de associações de policiais militares engrossaram a manifestação. Os professores estaduais, em greve desde 18 de novembro, também decidiram manter a paralisação.
Governo retira urgência de alguns pontos do pacote
Na noite de segunda-feira (16), devido à força da mobilização de funcionários e professores, o governo anunciou a retirada do regime de urgência da maioria dos projetos de reforma e manteve em pauta apenas o PLC 503, que estabelece novas alíquotas previdenciárias mesmo para servidores que ganham um salário-mínimo. As outras propostas, de acordo com deliberação da reunião de líderes ocorrida no final da manhã, deverão voltar à pauta apenas no final de janeiro. Foi uma vitória, ainda que parcial, do movimento.
Durante a assembleia unificada dos servidores, por isso, foi salientada a necessidade de manter a mobilização como forma de obter novas vitórias. “Esta greve é histórica porque nos tirou da invisibilidade. Não foi só obra de um comando unificado, mas daqueles que fecharam as portas em várias cidades do estado. Mas é precisamos que continuemos unidos até a retirada total do pacote”, disse o presidente do Sindicaixa, Érico Correa.
O dirigente diz que tem muito orgulho de ser servidor e criticou duramente o governador. “Leite é só mais um governador que, assim como muitos outros, vai para o limbo da história. Nada pode ser mais medíocre do que governar massacrando os que já são massacrados”, afirmou.
O presidente do Sintergs, Nelcir André Varnier, disse que a greve não é dos sindicatos, como insinua o governador, mas dos servidores “que não suportam mais humilhação e desrespeito”. Segundo ele, o recuo do governo deve ser considerado um “pequeno avanço” em meio a uma luta maior. “Sem nossa mobilização histórica, o governo já teria aprovado esse pacote nefasto para toda a sociedade gaúcha”, lembrou.
A presidenta do Sindsepe, Diva Costa, também foi cautelosa. Disse que é cedo para falar em vitória e pediu a continuidade da mobilização para a derrubada total do pacote – inclusive do PLC 503, que deverá ser votado ainda esta semana. “Não vamos arredar pé desta praça”, discursou durante a assembleia.
Uma das maiores greves do RS
A paralisação dos professores, que atinge mais de 80% da categoria, completou um mês, enquanto a greve dos servidores entra na quarta semana. Os dois movimentos continuam fortes, apesar da pressão do governo.
A greve reivindica a retirada do pacote de reforma administrativa da Assembleia e a regularização do pagamento dos salários, que vêm sendo pagos em atraso e parcelados há 48 meses. Também pede reposição salarial para funcionários e professores, sem reajuste há cinco anos.
Os dados das entidades representativas dos grevistas durante a assembleia não deixaram dúvida de que o movimento continua forte. Cerca de 90% dos técnicos agrícolas do estado estão em greve, assim como a quase totalidade das coordenações de Saúde (apenas uma não aderiu) e técnicos de secretarias como Planejamento, Obras, Cultura e Turismo.
O pacote, entre outras medidas consideradas aberrações pelos trabalhadores estaduais, taxa os salários mais baixos de aposentados com desconto de alíquota previdenciária, retira a possibilidade de incorporação de vantagens de carreira nas aposentadorias e, no caso dos professores, mexe no plano de carreira desestimulando as especializações e pós-graduações.
Fonte: Flavio Ilha – Brasil de Fato RS